Concordo inteiramente com os homens da luta e solidarizo-me com o protesto. Força camaradas, a luta contínua!...
Fátima tem se vindo a transformar cada vez mais num verdadeiro templo comercial, de negócios e de altos níveis do poder… Onde está a simplicidade que Jesus apregoava? E Maria, não apareceu às criancinhas pobres? Então porquê tanta ostentação e tanta opulência? Eu própria sou testemunha ocular das diversas injustiças que se cometem em Fátima.
Já fui a pé a Fátima e também, diversas vezes, vivi o espírito do 13 de Maio. E eis o que vi, que me deixou chocada e perplexa, mesmo horrorizada e revoltada.
Às duas da madrugada, fecham tudo, inclusive a nova catedral, onde se gastou tantos milhões, que deveria servir toda e qualquer pessoa; onde pelo menos uma única noite no ano, a noite de maior afluxo populacional, deveria permanecer de portas abertas para os milhares e milhares de crentes que aí se dirigem. Cada um com os seus sofrimentos e padecimentos. Pessoas que vão beber e saciar a sua sede de fé e esperança, num local que deveria ser o exemplo da FRATERNIDADE e do AMOR INCONDICIONAL. Nesses anos onde também eu pernoitei ao relento, e, vagueei por o recinto de Fátima, onde após as duas horas da madrugada, os dirigentes oficiais de Fátima se esquecem dos seus peregrinos da alma, e por mais incrível que pareça, fecham todas as portas.
Perguntei várias vezes o motivo, porque fechavam a nova catedral na mítica noite de 12 para 13 de Maio. E a resposta foi sempre a mesma: devido à quantidade de massa populacional que invade todos os anos esta noite tão famosa, com sua procissão de velas e para assistirem à procissão do derradeiro adeus, tomam tal medida de fechar tudo por precaução e com MEDO de roubos e vandalismos. Eu pergunto então, se no local mágico que deve ser o exemplo da BOA VONTADE ENTRE OS HOMENS, porque não solucionar tal problema com mais vigilância? O que eu pude observar e constatar foi de uma crueldade indescritível e chocante para toda e qualquer pessoa.
Vi centenas e centenas de pessoas a dormirem ao relento no chão de pedra, com criancinhas embrulhadas em cobertores ao longo de toda a fachada lateral ou em qualquer lugar que pudesse servir-lhes de abrigo à intempérie nocturna, onde, e apesar de já ser Maio, por circunstâncias além do nosso conhecimento, coincide sempre chover, fazer frio e vento. Como se fosse posta à prova a verdadeira fé que move montanhas. E eis os verdadeiros heróis da alma, que ali pernoitam aconchegados no abrigo da sua fé.
É verdade que existem tendas de campanha. Mas não vi qualquer alusão escrita a tal, nem pude observar o cuidado do patriarcado responsável a anunciar nos altifalantes que “Por favor, existem tendas de campanha para abrigar todos aqueles que não possam pagar a estadia de um hotel…” ou a aconselhar que quem tivesse a seu cargo criancinhas deveriam preferir acomodar-se melhor, longe das susceptibilidades do tempo. Conforme tiveram, e creio que ainda têm, o “cuidado” de anunciar bem alto que fechavam as portas às 2 horas da madrugada para dar inicio pelas 6 horas as actividades eucarísticas na Capelinha das Aparições, com a consequente continuação do programa oficial. Não vi ninguém, ninguém mesmo, voluntário ou vigilante oficial da entidade que regula e organiza esta mítica noite de demonstração de fé, dirigir-se às pessoas, ou percorrer o recinto, com a preocupação de oferecer os melhores serviços, uma melhor assistência de cuidados e aconselhamento para que possam usufruir de melhor acomodação. Ao contrário, aquando do início da programação oficial, já por volta das 6 da manhã, observei o cuidado extremo e exímio de pessoas, obedecendo a ordens superiores com certeza do patriarcado, a despejarem e mandarem sair do local onde as pessoas pernoitaram, para poder dar lugar à continuidade da programação oficial do patriarcado, sem pudor nem piedade, obrigando a deslocação com os seus pertences (cobertores, etc.) para que rapidamente de um momento para o outro, o local ficasse sem vestígios das horas antecedentes.
Respeito quem deseje passar a noite, como eu fiz varias vezes, a vaguear e a meditar durante as longas horas que medeiam as celebrações eucarísticas. É um acto pessoal que merece toda a consideração. É um local magnifico, mítico e com muita energia. Essencialmente pela alvorada, o acordar do sol, acompanhado pelo chilrear dos passarinhos e o voo bailante e gracioso das andorinhas, faz-nos acreditar numa nova esperança. Mas não deveria ser só mesmo para quem desejasse possuir tal experiência? E oferecesse condições humanas e condignas para as pessoas mais debilitadas, e sobretudo às crianças?
Por isso junto e justifico o meu protesto junto aos homens da luta. A minha indignação com o meu testemunho. E o povo pah? Afinal não é a esse mesmo povo que Nossa Senhora apareceu e se dirigiu?
E não foi esse mesmo povo com a sua devoção contribui monetariamente para construção de tão ostensiva catedral?
Força camaradas, a luta continua…
Atenciosamente,
Manuela Franklin
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