domingo, 16 de fevereiro de 2014

Porta Interior



Porta Interior

Seja quais forem as nossas qualidades, mágoas ou situações de vida - se casámos várias vezes ou se nunca nos apaixonámos, se temos muito dinheiro ou se estamos sempre com falta dele -, as questões importantes da nossa vida nunca desaparecem.
Todos temos uma porta interior que ninguém pode atravessar senão nós mesmos. Podemos ter vários empregos ou relações amorosas, podemos viajar por todo o mundo, podemos ser médicos, advogados ou alpinistas profissionais, podemos abdicar nobremente da nossa vida para cuidar de um familiar doente, e quando terminarmos tudo isto, embora possa demorar anos, o último limiar que não cruzámos estará lá à nossa espera. Nada substitui o verdadeiro risco.
Não deixa, no entanto, de ser estranho como as mesmas exactas questões que andámos a evitar voltam sempre, com diferentes rostos, mas voltam sempre uma e outra vez. Independentemente de como tentemos fugir ou contornar aquilo que precisamos de enfrentar, descobriremos sempre com humildade que nenhum outro limiar poderá ser atravessado, se não abrirmos a porta que está diante de nós. Talvez a verdade mais antiga do autoconhecimento seja a de que a única saída é por dentro. Quando nos confrontamos repetidamente com a mesma questão, isso nem sempre é sinal de negação, mas pode querer dizer que ainda não a trabalhámos o suficiente.
Na minha própria vida, o facto de ter vivido, até chegar à vida adulta, com uma mãe dominadora e crítica tem-me empurrado vezes sem conta para situações com homens e mulheres dominadores, em que eu luto dolorosamente por obter a sua aprovação, temendo, ao mesmo tempo, a sua rejeição. Durante anos, tentei lidar com essas circunstâncias, mas era como se limpasse e envernizasse a porta sem nunca a abrir. Fui obrigado a viver repetidamente a dor da rejeição, por mais capacidades que tivesse de lidar com ela, até ter finalmente aberto a porta do amor-próprio.
(...)
Os limiares não se movem. Somos nós que estamos sempre a voltar, conforme a nossa preparação e experiência, porque a alma só conhece um caminho para a plenitude, que é atravessando o limiar da nossa verdade.

* Medite numa questão que está sempre a voltar-lhe ao pensamento.
* Considerando-a como um mensageiro, pergunte-lhe qual é a porta que ela está a tentar abrir-lhe.
* Como mudará a sua vida se atravessar esse limiar?
* Como será afectada a sua vida se não o atravessar?

Texto de Mark Nepo

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