terça-feira, 23 de novembro de 2010

A lição do essencial

A lição do essencial
Discorriam os discípulos, entre si, quanto às coisas essenciais ao bem-estar, quando o
Senhor, assumindo a direção dos pensamentos em dissonância, acrescentou:
— É indispensável que a criatura entenda a própria felicidade para que se não transforme,
ao perdê-la, em triste fantasma da lamentação. Longe das verdades mais simples da Natureza,
mergulha-se o homem na onda pesada de fantasiosos artifícios, exterminando o tempo e a
vida, através de inquietações desnecessárias.
E como quem recordava incidente adequado ao assunto, interrompeu-se por alguns instantes
e retomou a palavra, comentando:
— Ilustre dama romana, em companhia dum filhinho de cinco anos, dirigia-se da cidade
dos Césares para Esmirna, em luxuosa galera de sua pátria. Ao penetrar na embarcação, fizerase
acompanhar de dois escravos, carregados de volumosa bagagem de jóias diferentes: colares
e camafeus, braceletes e redes de ouro, adornados com pedrarias, revelavam-lhe a predileção
pelos enfeites raros. Todo o pessoal de serviço inclinou-se, com respeito, ao vê-la passar, tão
elevada era a expressão do tesouro que trazia para bordo.
Tão logo se fez o barco ao mar alto, a distinta senhora converteu-se no centro das atenções
gerais. Nas festas de cordialidade era o objetivo de todos os interesses pelos adornos brilhantes
com que se apresentava.
A excursão prosseguia tranqüila, quando, em certa manhã ensolarada, apareceu o imprevisto.
O choque em traiçoeiro recife abre extensa brecha na galera e as águas a invadem. Longas
horas de luta surgem com a expectativa de refazimento; entretanto, um abalo mais forte
leva o navio a posição irremediável e alguns botes descidos são colocados à disposição dos
viajantes para os trabalhos de salvamento possível.
A ilustre patrícia é chamada à pressa.
O comandante calcula a chegada a porto próximo em dois dias de viagem arriscada, na
hipótese de ventos favoráveis.
A jovem matrona abraça o filhinho, esperançosa e aflita. Dentro em pouco ela atinge o
pequeno barco de socorro, sustentando a criança e pequeno pacote em que os companheiros
julgaram trouxesse as jóias mais valiosas. Todavia, apresentando o conteúdo aos poucos irmãos
de infortúnio que seguiriam junto dela, exclamou:
— “Meu filho é o que possuo de mais precioso e aqui tenho o que considero de mais útil”.
O insignificante volume continha dois pães e dez figos maduros, com os quais se alimentou
a reduzida comunidade de náufragos, durante as horas aflitivas que os separavam da terra
firme.
O Mestre repousou, por alguns segundos, e acrescentou:
— A felicidade real não se fundamenta em riquezas transitórias, porque, um dia sempre
chega em que o homem é constrangido a separar-se dos bens exteriores mais queridos ao coração.
Os loucos se apegam a terras e moinhos, moedas e honras, vinhos e prazeres, como se
nunca devessem acertar contas com a morte. O espírito prudente, porém, não desconhece que
todos os patrimônios do mundo devem ser usados para nosso enriquecimento na virtude e que
as bênçãos mais simples da Natureza são as bases de nossa tranqüilidade essencial. Procuremos,
pois, o Reino de Deus e sua justiça, tomando à Terra o estritamente necessário à manutenção
da vida física e todas as alegrias ser-nos-ão acrescentadas.
Do Livro Jesus no Lar/Chico Xavier



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