sábado, 6 de novembro de 2010

No outro lado do espelho

Lágrimas de cristal
Deus meu, quanto sofrimento… quanta angustia, quanta insegurança e falta de auto-estima, quanta dor…
Lágrimas no rosto e na alma, lágrimas invisíveis aos outros, mas reais no coração, são as lágrimas de cristal. E tudo isto de uma forma transversal e universal. Atravessa Homens, Mulheres e Jovens em todos os países e continentes, neste nosso planeta azul chamado Terra.

Meditemos e discutamos sobre as ilusões e desilusões da imagem. Para isso tudo se faz, tudo é permitido em nome da IMAGEM, desde dietas “yô-yô”, restrições e abstinências alimentares, mesinhas de qualquer… amiga que ouviram ou leram em qualquer… lado que deu resultado, emagrecem e “milagre” não voltam a engordar, medicamentos, produtos dietéticos, exercícios ou a falta deles, que em verdade verdadinha acompanham todos mas todos os que “carregam” o seu próprio peso em cima do corpo, literalmente. Não podemos classificar por ser-mos só preguiçosos, mas sim muito mais por outros factores, falta de auto-estima, vergonha de expor o corpo, cansaço, este verdadeiro obstáculo maior a transpor. Imaginem carregar sempre mas sempre 24 horas com um saco de batatas de x quilos permanentemente sem ter possibilidade de “pousar” esse excesso só por algum tempo para recuperar o fôlego e o cansaço. Não podemos pura e simplesmente, ponto final. Está dentro de nós, é como se nós dividíssemos em dois ou três clones de nós mesmos, unidos num só. E por isso tudo se socorre a qualquer “luz” que diga que se vai emagrecer, e recuperar a auto-estima, vestir aquela roupa… poder comprar qualquer trapinho a preço de saldo e bem ao nosso gosto, e melhor que tudo, SERVE. Assim damos ouvidos a falsos profetas e a falsas promessas, que até aos dias de hoje ainda não conseguiram resolver sem efeitos colaterais e secundários esta epidemia à escala global que continua a aumentar, com o nome de obesidade. As cirurgias bariáticas em voga por todo o mundo moderno e “civilizado”. Eu posso falar com conhecimento de causa, também me deixei embalar no sonho da imagem de bem-estar e saúde que tanto e todos desejamos. Porque somos bombardeados constantemente em todo o lado (através dos media) por um ANTES e um DEPOIS que nos causam inveja e ciúmes e apetência para também termos esse patamar do depois, que uma ou outra amiga ou uma ou outra figura pública reaparece, qual “herói”, por detrás da cortina de uma guerra. Guerra que nós também transportamos no nosso interior, e acalentamos o desejo de também pertencemos ao mundo do “depois”. Só que ignoramos os riscos, primeiro porque no início, e como qualquer início, existe sempre um terreno a desbravar, como um qualquer aventureiro que se disponha a empreender a sua expedição, e no inicio achamo-nos cheios de esperança e julgamos conseguir transpor qualquer e todo o obstáculo que se coloque no nosso caminho, e no nosso objectivo final. Até porque se não correr tão bem ou se os resultados não forem os desejados haverá sempre alternativas e novas oportunidades, tal qual peregrino que encontra abrigo para se recompor das suas maleitas e mazelas de caminhada, também nós desejamos esse porto de abrigo de novas oportunidades e esperanças renovadas, acreditando que existe sempre alternativa, cirurgias reconstrutivas e para restaurar os resultados negativos e dificuldades inesperadas, tais como o corpo não reagir bem. E comprometemo-nos a seguir para a próxima cirurgia com o entusiasmo renovado e o medo dobrado. Quero deixar aqui a minha sincera homenagem à CORAGEM e AUTO-DETERMINAÇÃO a todos os companheiros que não desistiram e continuam a perseguir de cirurgia em cirurgia os resultados tão sonhados e tão dificilmente sofridos. Por isso e para eles desejo que Deus os ilumine e acompanhe.

Eu, depois da minha viagem conturbada e complicada no mundo das cirurgias bariaticas (3 vezes operada, numa outra altura eu conto esse meu percursos atribulado), também como em tudo na vida conheci e conheço pessoas excepcionais e fantásticas, com as suas historias, medos e sofrimentos, que contribuíram e ajudaram a retirar dessa minha experiencia, da qual eu encarei a minha forma de enfrentar toda esta problemática, que se não formos nós a cuidar e a reeducarmo-nos fazendo uma reforma interior, psico-emocional, encarando esta nossa forma de estar, ser e viver para o resto da nossa vida como uma doença crónica, mas que como toda mas mesmo toda a doença crónica, temos que começar primeiro por a aceitar e gostar de nós como nós somos. Nós somos mais, somos O OUTRO LADO DO ESPELHO e se eu não me amar a não me respeitar, não um amor narcisista, mas sim um amor baseado no amor universal incondicional, para aceitarmos e amarmos o outro sem nenhum tipo de preconceito.

Muitos amigos me dizem que a gordura também traz consigo outras patologias associadas, hipertensão, varizes, problemas cardiovasculares, hosteoartrite, depressões, falta de auto-estima e confiança, etc. É claro que SIM, mas temos de encarar o problema colocando-o nos pratos de uma balança. Num dos pratos colocamos o EU, no outro prato os riscos. O eu: pessoa integral, psíquica e espiritual (independentemente de qualquer crença religiosa ou ideais, ateus e agnósticos); no outro prato da balança os riscos: todos os efeitos colaterais e secundários da qual das opções que se tomam. Qualquer dos caminhos que se escolha, temos sempre que equacionar este equilíbrio/desequilíbrio da balança, do caminho que escolhemos trilhar. Como por exemplo, reforma interior (dieta mais exercício, muito difícil de se concretizar) para toda a vida, com aceitação do eu e da doença crónica. Ou a opção de cirurgia”s”. Cirurgias sim, porque depois, se… se obtiver o peso certo, faltam também as cirurgias plásticas. Tudo isto porque há mesmo uma rejeição e o que mais impressiona é o facto de a discriminação ser um dado socialmente adquirido e aceite pela sociedade. Infelizmente até pelos novos “falsos magros”, que depois de uma escalada penosa para chegarem ao seu objectivo final, esquecem-se e rejeitam as pessoas obesas, que tal como eu, sentem ou sentiram na alma e na pele a diferença e a pressão desumana, rude e fria, com que se vêem confrontados nas mais diversas situações do quotidiano. Desde o simples facto de andar na rua, subir escadas, utilizar transportes públicos, ir a um centro comercial, trabalho, tudo que se possa imaginar no dia-a-dia. Como se a pessoa obesa já não tivesse suficiente pena a cumprir a arrastar consigo, ainda tem de suportar olhares discriminativos e punitivos. A velha máxima “somos o que comemos” ou “come-se para viver e não viver para comer” é levada à letra, literalmente, mas nem todas as pessoas obesas o são porque comem compulsivamente “este mundo e o outro”. Existem múltiplos factores de ordem científica, biológica, psicológica, emocional e até de stress. Como vemos, não é assim tão simples. Porque se não, como explicar as pessoas (eu conheço pessoalmente algumas) e julgo que todos nós no nosso circulo de conhecimentos, conhecemos pessoas que comem muito, exageradamente muita quantidade, e NÃO ENGORDAM.
 Afinal em que é que ficamos, não é mesmo? É como aquelas pessoas que toda a vida fumaram e hoje em dia toda a gente sabe que é prejudicial à saúde, e está comprovado cientificamente, e vivem a vida inteira, morrem por exaustão biológica, ou seja velhinhos, sem nunca sofrerem problemas graves e crónicos respiratórios, e temos crianças, jovens e adultos que nunca fumaram nem tiveram submetidos a fumo passivo e no entanto adquirem doenças características de fumadores. São os mistérios e os desígnios para os quais não encontramos resposta conformista. Só esperança consoladora, como eu encontrei a minha (mesmo com altos e baixos como toda a gente, com dúvidas e estudo permanente para obter respostas mais assertivas). Para mim, agradeço de toda a minha alma à minha filhinha, à minha alma gémea, minha estrelinha do mar e do céu, e a Jesus, à filosofia/doutrina Espírita de Allan Kardec, que me fez acreditar na esperança e na LUZ.
Citando Brian Weiz, nós somos espíritos com experiencias humanas e não humanos com experiencias espíritas. Agradeço a toda a comunidade espírita, na literatura, no estudo, nos centros e na internet, que me despertaram espiritualmente para uma dimensão de AMOR FRATERNAL, como Jesus nos ensinou “amemo-nos uns aos outros”.
Se este meu humilde testemunho for útil a alguém que sofra, seja ela qual for a circunstância, e se identifique SEJA BEM-VINDO, juntos faremos mais e melhor, com afectividade, respeito, humildade e espiritualidade.

Namaste (só por HOJE )

Muita SAUDE PAZ AMOR - SPA

Com Carinho e Ternura
Manuela Franklin

1 comentário:

  1. Relato corajoso emocionante. Faz-nos pensar o quanto esta frágil e obscura sociedade nos faz esquecer do nos amarmos a nós próprios, fazendo com que sigamos ideias errados…
    Leiam e acompanhem, vale mesmo a pena… por mim, eu espero por mais!

    Obrigada por tudo,
    Beijos,
    Mafalda

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